do
Guerreiro da Luz
(1997 by Paulo Coelho. Ed. Objetiva Ltda.ª. Editoração Eletrônica: A.P. Editora.)
Neste momento,
fica triste. Conhece a infelicidade alheia, a solidão, as frustrações que
acompanham grande parte da humanidade e acha que não merece o que está para
receber.
(SEGUE o 21)
O seu
anjo sussurra: “entrega tudo”. O guerreiro ajoelha-se e oferece a Deus as suas
conquistas.
A entrega
obriga o guerreiro a parar de fazer perguntas tolas e o ajuda a vencer a culpa.
O
guerreiro da luz tem a espada em suas mãos.
É ele
quem decide o que vai fazer e o que não fará em circunstância nenhuma.
Há momento
em que a vida o conduz para uma crise: ele é forçado a separar-se de coisas que
sempre amou: então o guerreiro reflete.
Verifica se está cumprindo a vontade de Deus ou se age por egoísmo. Caso a separação esteja mesmo no seu caminho,
ele aceita sem reclamações.
Se,
entretanto, tal separação for provocada pela perversidade alheia, ele é
implacável em sua resposta.
O
guerreiro possui o golpe e o perdão. Sabe usar os dois com a mesma habilidade.
O
guerreiro da luz não cai na armadilha da palavra “liberdade”.
Quando o
seu povo está oprimido, a liberdade é um conceito claro. Nessas horas usando espada e escudo, luta até
perder o fôlego ou a vida. Diante da opressão, a liberdade é simples de
entender: é o oposto da escravidão.
Mas, às
vezes o guerreiro escuta os mais velhos dizendo: “quando parar de trabalhar,
ficarei livre”> Então, depois de um ano, os mais velhos reclamam: “a vida é
apenas tédio e rotina”. Neste caso, a liberdade é difícil de entender; ela
significa ausência de sentido.
Um
guerreiro da luz está sempre comprometido. É escravo do seu sonho e livre em
seus passos.
Um
guerreiro da luz não fica repetindo sempre a mesma luta – principalmente quando
não há avanços ou recuos.
Se o
combate não progride, ele entende que é preciso sentar-se com o inimigo e
discutir uma trégua; ambos já praticaram a arte da espada e agora precisam se
entender.
É um gesto
de dignidade – e não de covardia. É um equilíbrio
de forças e uma mudança de estratégia.
Traçados
os planos de paz, os guerreiros voltam para suas casas. Não precisam provar
nada a ninguém; combateram o bom Combate e mantiveram a fé. Cada um cedeu um
pouco aprendendo com isto a arte da negociação.
Os amigos
do guerreiro da luz perguntam de onde vem sua energia. Ele diz: “do inimigo
oculto”.
Os amigos
perguntam quem é.
O
guerreiro responde: “alguém que não podemos ferir”.
Pode
ser um menino que o derrotou numa briga na infância, a namorada que o deixou
aos onze anos, o professor que o chamava de burro. Quando está cansado, o
guerreiro lembra-se que ele ainda não viu sua coragem.
Não pensa
em vingança, porque o inimigo oculto não faz mais parte de sua história. Pensa
apenas em melhorar sua habilidade, para que seus feitos corram o mundo e
cheguem aos ouvidos de quem o machucou no passado.
(SEGUE para o 22)