do
Guerreiro da Luz
(1997 by
Paulo Coelho. Ed. Objetiva Ltda.ª.
Editoração Eletrônica: A.P. Editora.)
Sendo flexível, ele não julga mais o mundo na base
do “acerto” e “errado” e, sim, na base da “atitude” mais apropriada para aquele
momento”.
(SEGUE
o 29)
Sabe que seus companheiros também têm que se
adaptar e não fica surpreso quando eles só mudam de atitude. Dá a cada um o
tempo necessário para justificar suas ações.
Mas é implacável com a traição.
Um guerreiro senta-se ao redor da fogueira com seus
amigos.
Passam horas acusando-se mutuamente, mas terminam a
noite dormindo na mesma tenda e esquecendo as ofensas que foram ditas. De vez
em quando, aparece um recém-chegado no grupo. Porque ainda não tem uma história
em comum, mostra apenas suas qualidades e alguns o veem como um mestre.
Mas o guerreiro da luz jamais compara com seus
velhos companheiros de batalha. O estrangeiro é bem-vindo, mas só confiará nele
quando souber também os seus defeitos.
Um guerreiro da luz não entra numa batalha sem conhecer
os limites do seu aliado.
O guerreiro conhece uma velha expressão popular: “se
arrependimento matasse...”.
E sabe que o arrependimento mata. Vai lentamente
corroendo a alma de quem fez algo errado e leva à autodestruição.
O guerreiro não quer morrer desta maneira. Quando
age com perversidade ou maldade – porque é um homem cheio de defeitos – ele não
tem vergonha de pedir perdão.
Se ainda é possível, usa seus esforços para reparar
o mal que fez. Se a pessoa a quem atingiu já está morta, ele faz o bem a um
estranho e oferece a tarefa em intenção à alma de quem feriu.
Um guerreiro da luz não se arrepende, porque
arrependimento mata. Ele humilha-se e conserta o mal que causou.
Todos os guerreiros da luz já escutaram a mão
dizendo: “meu filho fez isto porque perdeu a cabeça, mas – no fundo – é uma
pessoa muito boa”.
Embora respeite sua mãe, ele sabe que não é assim.
Não fica se culpando por seus atos impensados e tampouco vive se perdoando por
tudo de errado que faz – pois desta maneira jamais corrigirá seu caminho.
Ele usa o bom senso para julgar o resultado de seus
atos – e não intenções que teve ao executá-lo. Assume tudo o que faz, mesmo que
pague um preço alto por seu erro.
Diz um velho provérbio árabe: “Deus julga a
árvore por seus frutos e não por suas raízes”.
Aténs de tomar uma decisão importante – declarar uma
guerra, mudar-se com seus companheiros para outra planície, escolher um campo
para semear – o guerreiro pergunta a si mesmo: “como isto irá afetar a quinta
geração de meus descendentes?”.
Um guerreiro sabe que os atos de cada pessoa têm consequência
que se prolongam por muito tempo e precisa saber que no mundo está deixando
para a sua quinta geração.
“Não faça tempestades num copo d’água”, alguém
adverte o guerreiro da luz.
Mas ele nunca exagera um momento difícil e procura
sempre manter a calma necessária.
Entretanto, não julga a dor alheia.
(SEGUE para o 30)