Manual
do
Guerreiro da Luz
(1997 by Paulo Coelho.
Ed. Objetiva Ltda.ª. Editoração
Eletrônica: A.P. Editora.).
Um guerreiro responsável
foi capaz de observar e treinar. Foi inclusive, capaz de ser “irresponsável”:
às vezes deixou-se levar pela situação e não respondeu, nem reagiu.
(SEGUE o 19)
Mas aprendeu as lições; tomou uma atitude, ouviu um
conselho, teve a humildade de aceitar ajuda.
Um
guerreiro responsável não é o que coloca sobre seus ombros o peso do mundo; é aquele
que aprendeu a lidar com os desafios do instante.
Um guerreiro da luz nem
sempre pode escolher o seu campo de batalha.
Às vezes é colhido de
surpresa, no meio de combates que não desejava; mas não adianta fugir, porque
estes combates o seguirão.
Então, no momento em que o
conflito é quase inevitável, o guerreiro conversa com seu adversário. Sem demonstrar medo ou covardia, procura
saber por que o outro quer a luta; que coisas o fizeram sair de sua aldeia e procura-lo
para um duelo. Sem desembainhar a espada, o guerreiro o convence que aquele
combate não é seu.
Um guerreiro da luz escuta
o que seu adversário tem a dizer. Só luta, se for necessário.
O guerreiro da luz fica
apavorado diante de decisões importantes.
“Isto é grande mais para
você”, diz um amigo. “Vá em frente, tenha coragem”, diz outro. E suas dúvidas aumentam.
Depois de alguns dias de
angustia, ele recolhe-se ao canto de sua tenda, onde costuma sentar-se para
meditar e orar. Vê a si mesmo o futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e
prejudicadas por sua atitude. Não quer
causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.
O guerreiro então deixa
que a decisão se manifeste.
Se for preciso dizer sim,
ele dirá com coragem. Se for preciso dizer não, ele dirá sem covardia.
Um guerreiro da luz assume
por inteiro sua Lenda Pessoal.
Seus companheiros
comentam: “sua fé é admirável”.
O guerreiro fica orgulhoso
por alguns momentos e, logo, envergonha-se do que escutou, porque não tem a fé
que demonstra.
Neste momento seu ajo
sussurra: “você é apenas um instrumento da luz. Não há motivos para se
vangloriar, nem para sentir-se culpado; há motivo apenas para a alegria”.
E o guerreiro da luz,
consciente de que é um instrumento, fica mais tranquilo e seguro.
“Hitler pode ter perdido a
guerra no campo de batalha, mas terminou ganhando algo”, diz M.Halter. “Porque
o homem do século XX criou o campo de concentração e ressuscitou a tortura,
ensinou aos semelhantes que é possível fechar os olhos para as desgraças dos
outros.”
Talvez ele tenha razão:
existem crianças abandonadas, civis massacrados, inocentes nos cárceres, velhos
solitários, bêbados na sarjeta, loucos no poder.
Mas talvez ele não tenha
nenhuma razão: existem os guerreiros da luz.
E os guerreiros da luz
jamais aceitam o que é inaceitável.
O guerreiro da luz nunca esquece
o velho ditado: o bom cabrito não berra.
(SEGUE
para o 20)