do
Guerreiro da Luz
(1997 by Paulo Coelho.
Ed. Objetiva Ltda.ª. Editoração
Eletrônica: A.P. Editora.).
Então o
demônio continua: “deixe que eu te ajudo”. E diz o anjo: “eu te ajudo”.
(SEGUE o 18)
Nesta hora, o guerreiro
percebe a diferença. As palavras são as mesmas, mas os aliados são diferentes.
Então ele escolhe a mão de
seu anjo.
Toda vez que o guerreiro
puxa sua espada, ele a utiliza.
Pode servir para abrir um
caminho, ajudar alguém ou afastar o perigo – mas uma espada é caprichosa e não
gosta de ver sua lâmina exposta sem razão.
Por isso o guerreiro
jamais faz ameaças. Ele pode atacar, defender-se ou fugir; qualquer uma dessas
atitudes faz parte do combate. O que não faz parte do combate é desperdiçar a
força de um golpe, falando sobre ele.
Um guerreiro da luz está
sempre atento aos movimentos de sua espada. Mas não pode esquecer que a espada também
presta atenção aos seus movimentos.
Ela não foi para ser usada
com a boca.
Às vezes o mal persegue o
guerreiro da luz; então, com tranquilidade, ele o convida para a sua tenda.
Ele pergunta ao mal: “você
quer me ferir ou me usar para ferir os outros?”.
O mal finge não ouvir. Diz
que conhece as trevas da alma do guerreiro. Toca em feridas não cicatrizadas e
clama vingança. Lembra que conhece
algumas armadilhas e venenos sutis, que o ajudarão a destruir seus inimigos.
O guerreiro da luz escuta.
Se o mal se distrai, ele faz com que retome a conversa e pede detalhes de todos
seus projetos.
Depois de ouvir tudo,
levanta-se e vai embora. O mal falou
tanto, está tão cansado e tão vazio, que não conseguirá acompanha-lo.
O guerreiro da luz – sem querer
– dá um passo em falso e mergulha no abismo.
Os fantasmas o assustam, a
solidão o atormenta. Como procurou o Bom Combate, não pensava que isto fosse
acontecer com ele, mas aconteceu. Envolto pela escuridão, ele se comunica com
seu mestre.
“Mestre, cai no abismo”,
diz. “As águas são fundas e escuras.”
“Lembra-te de uma coisa”,
responde o mestre. “O que afoga alguém não é o mergulho, mas o fato de
permanecer debaixo d’água.”
E o guerreiro usa as suas
forças para sair da situação em que se encontra.
O guerreiro da luz
comporta-se como uma criança.
As pessoas ficam chocadas;
esqueceram que uma criança precisa divertir-se, brincar, ser um pouco
irreverente, fazer perguntas inconvenientes e imaturas, dizer tolices nas quais
nem ela mesma acredita.
E perguntam horrorizados: “É
isso o caminho espiritual? Ele não tem maturidade!”.
O guerreiro orgulha-se do
comentário. E mantém-se em contato com Deus, através de sua inocência e
alegria, sem perder de vista sua missão.
A raiz latina da palavra “responsabilidade”
desvenda o seu significado: capacidade de responder, de reagir.
Um guerreiro responsável
foi capaz de observar e treinar. Foi inclusive, capaz de ser “irresponsável”: às
vezes deixou-se levar pela situação e não respondeu, nem reagiu.
(SEGUE para o 19)