do
Guerreiro da Luz
(1997 by Paulo Coelho. Ed.
Objetiva Ltda.ª. Editoração Eletrônica:
A.P. Editora.).
Continuação:
02
Assim se passaram
muitos meses; a mulher não voltou, e o garoto a esqueceu; agora estava
convencido de que precisava descobrir as riquezas e tesouros do templo
submerso. Se escutasse os sinos, saberia sua localização, e poderia resgatar o
tesouro ali escondido.
Já não se
interessava mais pela escola, nem pela sua turma de amigos. Transformou-se no
gracejo preferido das outras crianças, que costumavam dizer: “ele não é mais
como nós. Prefere ficar olhando o mar, porque tem medo de perder nos jogos”.
E todos
riam, vendo o menino sentado na beira da praia.
Embora
não conseguisse escutar os velhos sinos do templo, o menino ia aprendendo
coisas diferentes. Começou a perceber que, de tanto ouvir o ruído das ondas, já
não se deixava distrair por elas. Pouco tempo depois, acostumou-se também com os
gritos das gaivotas, o zumbido das abelhas, o vento batendo nas folhas das
palmeiras.
Seis meses
depois de sua primeira conversa com a mulher, o menino já era capaz de não se
deixar distrair por nenhum barulho – mas tampouco escutava os sinos do tempo
afundado.
Outros pescadores
vinham falar com ele, e insistiam: “nós ouvimos!”, diziam.
Mas o
garoto não conseguia.
Algum
tempo depois, os pescadores mudaram de conversa: “você está muito preocupado
com o barulho dos sinos lá embaixo; deixe isto para lá e volte a brincar com
seus amigos. Talvez apenas os pecadores consigam escutá-los”.
Depois de
quase um ano, o menino pensou: “talvez estes homens tenham razão. É melhor
crescer, tornar-me pescador e voltar todas as manhãs para esta praia, porque
passei a gostar dela”. E pensou também: “talvez isto tudo seja uma lenda e –
como o terremoto – os sinos se tenham quebrado e jamais tornem a tocar”.
Naquela
tarde, resolveu voltar pra casa.
Aproximou-se
do oceano, para despedir-se. Olhou mais uma vez a natureza e, como já não
estava mais preocupado com sino – pôde sorrir com a beleza do canto das
gaivotas, o barulho do mar, o vento batendo nas folhas das palmeiras. Escutou
ao longe a voz de seus amigos brincando e sentiu-se alegre por saber que logo
estaria de volta aos jogos de sua infância.
Anos
depois – já homem - ... (SEGUE 03)
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