do
Guerreiro da Luz
(1997 by
Paulo Coelho. Ed. Objetiva Ltda.ª.
Editoração Eletrônica: A.P. Editora.)
Quarto: nossa obrigação é deixar
os outros contentes. É preciso agradá-los, mesmo que isto signifique renúncias
importantes.
(SEGUE
o 32)
Quinto: é preciso não beber da taça da felicidade,
senão podemos gostar – e nem sempre a teremos em nossas mãos.
Sexto: é preciso aceitar todos os castigos. Somos
culpados.
Sétimo: o medo é um alerta. Não vamos correr
riscos.
Estes são os mandamentos que nenhum guerreiro da
luz pode obedecer.
Um grupo muito grande de pessoas está no meio da
estrada, barrando o caminho que leva ao Paraíso.
O puritano pergunta: “Por que os pecadores?”.
E o moralista berra: “A prostituta quer fazer parte
do banquete!”.
Grita o guardião dos valores sociais: “Como perdoar
a mulher adúltera, se ela pecou?”.
O penitente rasga suas roupas: “Porque curar um
cego que só pensa em sua doença e nem sequer agradece?”.
Esperneia o asceta: “Tu deixas que a mulher derrame
em teus cabelos um óleo caro! Por que não vende-lo e comprar comida?”.
Sorrindo, Jesus segura a porta aberta. E os
guerreiros da luz entram, independentes da gritaria histérica.
O adversário é sábio.
Sempre que pode, lança mão de sua arma mais fácil e
mais efetiva: a intriga. Quando a utiliza, não precisa fazer muito esforço –
porque outros estão trabalhando para ele. Com palavras mal dirigidas, são
destruídos meses de dedicação, anos em busca da harmonia.
Frequentemente o guerreiro da luz é vítima desta
armadilha. Não sabe de onde vem o golpe e não tem como provar que a intriga é
falsa. A intriga não permite o direito
de defesa: condena sem julgamento.
Então ele aguenta as consequências e as punições
imerecidas – pois a palavra tem poder e ele sabe disto. Mas sofre em silêncio e
jamais usa a mesma arma par atacar seu adversário.
Um guerreiro da luz não é covarde.
“Daí ao tolo mil inteligências e ele não quererá
senão a tua”, diz o provérbio árabe. Quando o guerreiro da luz começa a plantar
o seu jardim repara que o vizinho está ali, espiando. Ele gosta de dar palpites
sobre como semear as ações, adubar os pensamentos, regar as conquistas.
Se der atenção ao que ele está dizendo, terminará
fazendo um trabalho que não é o seu: o jardim de que agora cuida será ideia do
vizinho.
Mas um verdadeiro guerreiro da luz sabe que cada
jardim tem seus mistérios, que só a mão paciente do jardineiro é capaz de
decifrar. Por isso, prefere concentrar-se no sol, na chuva, nas estações.
Sabe que o tolo que dá palpites sobre o jardim
alheio, não está cuidando de suas plantas.
Para lutar, é preciso manter os olhos abertos. E
ter companheiros fiéis ao seu lado.
(SEGUE para o 33)
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