do
Guerreiro da Luz
(1997 by
Paulo Coelho. Ed. Objetiva Ltda.ª.
Editoração Eletrônica: A.P. Editora.)
Para lutar, é preciso manter os olhos
abertos. E ter companheiros fiéis ao seu lado.
(SEGUE
o 33)
Acontece que, de repente, aquele que lutava junto
com o guerreiro da luz passa a ser seu adversário.
A primeira reação é de ódio; mas o guerreiro sabe
que o combatente cego está perdido no meio da batalha.
Então procura ver as coisas boas que o antigo
aliado fez durante o tempo em que conviveram. Tenta compreender o que o levou à
súbita mudança de atitude, quais os ferimentos que se acumularam em sua alma.
Busca descobrir o que fez um dos dois desistir do diálogo.
Ninguém é totalmente bom ou mau, o guerreiro pensa
nisto, quando vê que tem um novo adversário.
Um guerreiro sabe que os fins não justificam os
meios.
Porque não existem fins, existem apenas os meios. A
vida o carrega do desconhecido para o desconhecido. Cada minuto está revestido
deste apaixonante mistério: o guerreiro não sabe de onde veio, nem para onde
vai.
Mas não está aqui por acaso. E se alegra com a
surpresa, encanta-se com paisagens que não conhece. Muitas vezes sente medo,
mas isto é normal em um guerreiro.
Se ele pensar apenas na meta, não seguirá prestar
atenção aos sinais do caminho. Se concentrar-se apenas uma pergunta, perderá
várias respostas que estão ao seu lado.
Por isso o guerreiro entrega.
O guerreiro sabe que existe o “efeito-cascata”.
Já viu muitas vezes alguém agindo errado com quem
não tinha coragem de reagir. Então, por covardia e ressentimento, esta pessoa
descontou sua raiva em outro mais fraco, que descontou em outro, numa
verdadeira corrente de infelicidade. Ninguém sabe as consequências de suas
próprias crueldades.
Por isso o guerreiro é cuidadoso no uso da espada e
só aceita um adversário que é digno dele. Nos momentos de raiva, ele dá socos
na rocha e machuca a mão.
A mão termina sarando; mas a criança que terminou
apanhando porque seu pai perdeu um combate terminará marcada pelo resto da
vida.
Quando vem a ordem de mudança, o guerreiro vê todos
os amigos que criou durante o tempo que seguiu o caminho. A alguns ensinou como
escutar os sinos de um templo submerso, a outros contou histórias em torno da
fogueira.
Seu coração fica triste. Mas ele sabe que sua
espada está consagrada e deve obedecer às ordens Daquele a quem ofereceu sua
luta.
Então guerreiro da luz agradece os companheiros de
jornada, respira fundo e segue adiante, carregado com lembranças de uma jornada
inesquecível.
(SEGUE para o Epílogo)
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